terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O papel indispensável da Família no Novo Movimento Litúrgico

 
Duas semanas atrás, o Santo Padre encorajou todos dentro da Igreja para assumirem a oração dos salmos e o Ofício Divino, e ainda ontem [01 de dezembro de 2011, NdT] o Papa destacou que “a nova evangelização é inseparável da família cristã”. Enquanto isso, no New Liturgical Movement, falamos ontem de uma família cristã ortodoxa que assumiu o canto do Ofício como parte de sua oração em família, e uma semana e meia atrás, falamos de alguns costumes do Advento como a Coroa do Advento e a Árvore de Jessé, que poderiam ajudar a trazer o ano litúrgico para dentro de casa.

Então, como todas estas coisas se interligam?

Bem, verdade seja dita, elas se interligam de várias maneiras, mas há uma maneira em particular que eu gostaria de destacar e que está ligada a um tema que temos discutido e rediscutido ao longo dos anos: a Igreja doméstica e a vivência de uma vida litúrgica.

Alguns leigos podem experimentar uma sensação de impotência quando consideram as “sombras” (para usar a imagem adotada por alguns dentro da Cúria Romana) dentro da Igreja. Mesmo que eles não se sintam completamente impotentes, particularmente quando consideram a questão da sagrada liturgia eles podem sentir que têm pouco a contribuir – além de, quem sabe, uma voz no coro ou um ou dois coroinhas no presbitério. Eles podem sentir como se tivessem que, em última análise, sentar e esperar para que Roma ou o clero entreguem a solução para eles. Mas se alguém fosse pensar assim, estaria realmente errado, mais ainda, drasticamente errado.

Certamente Roma e o clero têm um papel muito importante a desempenhar, mas o novo movimento litúrgico não se trata de uma questão apenas para o Santo Padre, para a Santa Sé ou para o clero e os religiosos cuidarem. O novo movimento litúrgico é uma tarefa a ser assumida por todos, e todos, de fato, tem um papel importante a desempenhar. Isto inclui a família. Na verdade, não apenas inclui a família; eu ouso dizer que a família tem um papel absolutamente crítico e altamente influente.

Se for para o novo movimento litúrgico florescer e avançar para sua máxima extensão, ele deve ser vivido não apenas dentro de nossas paróquias e instituições, ele deve também enraizar-se e ser atualizado dentro de nossas casas; não devemos apenas tentar fomentar a vida litúrgica tardiamente na vida, devemos plantar a semente e regá-la cedo dentro da vida de nossas crianças. E, de fato, uma vez que as famílias são, como dizia o Papa João Paulo II, “a sementeira das vocações” [1], esta educação antecipada na vida litúrgica, esta formação litúrgica será seguramente de grande importância e influência também com relação aos futuros padres e bispos. Na verdade, se as famílias não incutirem esta formação litúrgica logo no início, nós dificilmente poderemos não nos surpreender se a tarefa parecer tão lenta e árdua mais tarde. A este respeito, talvez possamos pensar na família não apenas como sementeira de vocações, mas também como sementeira de um novo movimento litúrgico.

Voltando nosso olhar para o Movimento Litúrgico do século XX, este mesmo ponto foi feito por Emerson Hynes em seu artigo Before All Else (Orate Fratres, 21 de março de 1943. Vol. XVII, n. 5). Lá ele fez a pergunta “quão importante é a família no movimento litúrgico”? E comentou:

Nós reconhecemos a força da família em moldar os hábitos e o caráter das crianças. Nós sabemos também que nem a fé nem as idéias são herdadas. Elas são incutidas, e a família é o instrumento ordinário por meio do qual isto é realizado... Porque a família é uma sociedade tão básica e tão íntima, ela é a unidade mais poderosa para a preservação da herança. Antes que um movimento possa estabelecer-se permanentemente ele deve ter o apoio das famílias, deve tornar-se parte da tradição familiar. O movimento litúrgico permanecerá um movimento e nada mais até o momento em que ele se torne uma herança familiar. Pois embora a fonte da liturgia seja Cristo, através de Sua Igreja, e os seus guardiões próprios sejam os padres, através da paróquia, o florescimento da liturgia nas vidas dos membros [da Igreja, NdT] não será permanente até que ela se torne uma parte e parcela da vida da família cristã. Neste sentido, nós não podemos falar das famílias cristãs como os guardiões populares da liturgia, meios subordinados, porém essenciais para sua [maior, NdT] força e expansão?

Assim, também nossa resposta para a questão “quão importante é a família no movimento litúrgico?” deve ser que a família tem um papel absolutamente indispensável a desempenhar antecipando-o, proporcionando a faísca e o fogo que lançarão a luz necessária, a qual ajudará a dissipar as “sombras”. Mas se isso for acontecer, as famílias devem assumir o desafio agora, “moldando os hábitos e o caráter de [suas] crianças” de uma forma litúrgica, fazendo-a “parte e parcela da vida da família cristã”.

Vamos ao trabalho.

[1] NdT: Optou-se por uma tradução mais literal, embora a tradução oficial para português desta expressão, conforme a Familiaris Consortio (n. 53), seja “seminário da vocação”.


(Obs: Notas do tradutor, sejam no rodapé, sejam no decorrer do texto, estão indicadas pela sigla NdT)